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Interpretação de Enunciados (2)

     Prezados estudantes,

     Saudações,

   Dando continuidade ao estudo de interpretação de enunciados, estudaremos hoje a interpretação de textos, como é entendida pelos concursos.
    Diferente da intelecção (também chamada de compreensão textual), a interpretação de textos leva o leitor a comentar, a julgar a intenção do escritor, a tirar suas conclusões a partir do que leu do texto. Como a banca pretende saber se você saber concluir o que o texto está dizendo, as perguntas mais comuns encontradas nos enunciados são: 

  1. O texto possibilita o entendimento de que...
  2. Com o apoio do texto, infere-se que...
  3. O texto encaminha o leitor para...
  4. Pretende o texto mostrar que...
  5. o texto possibilita deduzir-se que...
  6. Depreende-se que...
     Observação:

  1. Inferir - tirar por conclusão, deduzir pelo raciocínio;
  2. depreender - atingir a compreensão de, chegar à conclusão, perceber, compreender, inferir, deduzir.
   Observe que os dois verbos são, praticamente, sinônimos. O importante é que, da próxima vez que você encontrar um desses em uma prova de concurso, não venha a se assustar mais!


   Três erros capitais na análise de textos - Chamaremos a estes erros CIA ( carência, inversão e acréscimo)


  1. Carência (também chamada de Redução) - É o fato de se valorizar uma parte do contexto, deixando de lado a sua totalidade. Em outras palavras, o estudante erra por não considerar o texto como um todo. Daí aquele sensação de que a questão tem mais de uma resposta correta, o que é um erro de interpretação.
  2. Inversão ( também chamada de Contradição) - É o fato de se entender justamento o contrário do que está escrito. É bom tomar cuidado com algumas palavras, tais como: "pode", "deve", "não", verbo "ser" etc.
  3. Acréscimo (também chamada de Extrapolação) - É o fato de se fugir do texto. Ocorre quando se interpreta o que não está escrito. Pode até ser verdadeiro o fato, mas o texto não o afirma (nem  o confirma), de modo que não podemos admiti-lo.

   Abaixo, você encontrará uma prova onde há uma questão que trabalhará diretamente o assunto trabalhado hoje:

     Urbanização abala a saúde de moradores do interior da Amazônia

    Mesmo que aumente o conforto, as consequências do ingresso na vida moderna - com alimentos prontos, televisão, telefone e máquina de lavar roupa - não são nada boas para a saúde. Hilton Pereira da Silva, médico e antropólogo do Museu Nacional, encontrou uma taxa elevada de hipertensão arterial na população de três comunidades rurais do Pará que gradativamente deixaram o extrativismo e começaram a usar bens de consumo tipicamente urbanos.
    Aracampina, a maior comunidade estudada, localizada na ilha de Ituqui, às margens do rio Amazonas, tem cerca de 600 habitantes. Eram 460 há sete anos, quando Hilton Silva chegou lá pela primeira vez e notou que a vida mudava rapidamente - consequência da proximidade com Santarém, a quatro horas de barco. "Quando ocorre a transição para o estilo de vida moderno e urbano, a primeira mudança é a dieta", diz ele. "Aumenta o consumo de sal, de enlatados e de comida industrializada, cheia de produtos químicos".
   Nas primeiras vezes em que esteve lá, o pesquisador notou que os caboclos pescavam intensamente.          Completavam a alimentação com farinha de mandioca, frutas, feijão e milho. "Hoje os caboclos deixaram o extrativismo, trabalham na pesca industrial, para as madeireiras ou em fazendas e compram carne em conserva, açúcar, café e biscoitos", relata. "As mudanças na dieta estão causando uma mudança gradual na fisiologia do organismo, que leva à hipertensão".
    Ainda não há água encanada em Aracampina, mas os caboclos agora têm luz elétrica, graças ao gerador a diesel, fogão a gás, televisão ligada a bateria de carro e telefone que funciona por meio de rádio. Em consequência, houve uma redução da atividade física que ajuda a equilibrar a pressão arterial. "Por terem acesso a fogão de gás, não buscam mais lenha na mata, exemplifica Hilton Silva. "E já usam fralda descartável, que também reduz o trabalho das mulheres". Mas surgem outras fontes de estresse, como a necessidade de ganhar mais dinheiro para comprar comida, relógio, bicicletas e aparelho de som.

(Pesquisa, São Paulo. Fapesp, abril de 2003)
Extrativismo - atividade que consiste em extrair da natureza quaisquer produtos que possam ser cultivados para fins comerciais ou industriais.

     1 - Pode-se corretamente deduzir da leitura do texto que:
     A - (   ) o progresso tecnológico é uma ilusão, pois só acarreta prejuízos materiais para aqueles a quem supostamente beneficiaria;
     B - (   ) os modos de vida mais primitivos podem propiciar um maior equilíbrio orgânico para os indivíduos;
     C - (   ) os modos de vida mais primitivos constituem um fator de alta insalubridade para os indivíduos;
     D - (   ) os recursos tecnológicos não representam modernização, pois muito poucos sabem tirar proveito deles;
     E - (   ) os modos de vida mais primitivos apenas disfarçam a alta taxa de ansiedade de que já sofre cada um dos indivíduos.

     Inicialmente, já podemos descartar como questão correta a letra A. Em nenhum momento o texto afirma ser uma ilusão o progresso tecnológico. Admite, inclusive, que o progresso tecnológico pode aumentar o conforto, já que seus beneficiários terão acesso à luz elétrica, televisão etc. Não há só prejuízos herdados pelo progresso tecnológico. A opção peca por acréscimo (C, de CIA) por afirmar o que o texto não diz. A letra C afirma que os modos de vida mais primitivos constituem um fator de alta insalubridade. Insalubre é o que constitui algo prejudicial à saúde. Pelo texto, ficamos sabendo que é justamente o contrário, já que os moradores da área, ao trocarem o seu modo de vida, adquiriram doenças da modernidade, como hipertensão. A questão peca por inversão (I, de CIA); A letra D afirma que, como poucos sabem tirar proveito dos recursos tecnológicos, na verdade, não houve modernização. Não se pode admitir esta letra como a verdadeira, pois o texto deixa evidente no último parágrafo certos benefícios decorrentes de tais recursos. A última opção peca por acréscimo (A, de CIA), já que afirma algo que o texto não diz, ou seja, nada no texto afirma que os moradores antes do progresso tecnológico já sofriam de ansiedade. Portanto, a resposta correta é a letra B, pois, segundo o texto, foi com o progresso tecnológico que os moradores passaram a ter problemas relacionados à mudança de vida, como a hipertensão. Isto deixa subentendido que, antes, não havia esses problemas.
No próximo blog, colocaremos questões para que você, caro leitor do blog, possa, sozinho, fazê-las e, adiante, colocarei o gabarito delas.

Abraço fraterno,

Professor Rogério Brambila de Carvalho.

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