Prezados estudantes e amigos,
Hoje desejo comentar o uso (já consagrado) da palavra "mesmo" na linguagem coloquial em expressões tais como: "antes de ligar o aparelho, verifique se o mesmo está na voltagem adequada".
A pergunta é: de acordo com a norma culta, o uso da palavra "mesmo" está adequado?
Antes de discutirmos o problema, é preciso entender que, no Brasil, o uso dessa palavra é muito comum, inclusive em se tratando de texto jurídicos (Petição Inicial, Relatório Jurídico etc). Assim, é importante que o estudante da Língua Portuguesa entenda que já está mais do que consagrado o uso desse termo de modo que ninguém (ou quase ninguém) sente algum suposto "erro" gramatical. De qualquer forma, o uso de "mesmo" é possível nos seguintes casos abaixo relacionados:
- Na expressão "o mesmo" no sentido de "mesma coisa". Exemplo: Eu desejo o mesmo para você;
- Quando for um pronome demonstrativo. Nesse caso, ele estará ao lado de um substantivo. Exemplo: Não estou conseguindo entender nada! Já li a mesma questão cinco vezes e não encontro nenhum erro nela.
- No lugar da palavra denotativa "até". Exemplo: Mesmo um asno conseguiria entender a situação, menos você!
- Como advérbio, no sentido de "realmente", "de fato", "de verdade". Exemplo: O que eu quero mesmo é passar na prova de Auditor Fiscal! Observação: Como advérbio e/ou palavra denotativa, "mesmo" é invariável. Já na classificação de pronome , ele poderá ser flexionado.
A palavra mesmo está sendo empregada com o sentido igual ao que se verifica em "O Brasil foi campeão mesmo", na seguinte frase:
A - ( ) O diretor preferiu ele mesmo entregar o relatório ao conselho;
B - ( ) Mesmo sabendo que a proposta não seria aceita, ele a enviou;
C - ( ) Fui atendido pelo mesmo vendedor que o atendeu anteriormente;
D - ( ) Você sabe mesmo falar cinco idiomas fluentemente?
E - ( ) Ele ficou tão feliz com a noticia que pensou mesmo em sair dançando.
A resposta correta é a letra D. Observe que, conforme explicado, a palavra "mesmo" pode ser substituída, sem prejuízo, por "de fato", "de verdade", "realmente". Vamos, agora, analisar os outras opções. Na letra A, "mesmo" pode ser substituído por próprio, sendo assim, um pronome demonstrativo. Vale a pena citar Bechara, que nos afirma "Mesmo, Próprio, semelhante e tal têm valor demonstrativo quando denotam identidades ou se referem a seres e ideias já expressas anteriormente, e valem por esse, essa, aquele, isso, aquilo". (BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Brasileira, 37ª ed. Rio de Janeiro, Lucerna, 2001. Página 168). Além disso, "mesmo" aqui tem valor anafórico. Na Letra B, "mesmo" é um articulador de oposição concessiva e, por isso, equivale a "embora"; Na letra C, "mesmo" é um pronome demonstrativo que tem valor adjetivo, modificando o substantivo "vendedor". Na letra E, "mesmo" tem valor de palavra denotativa e, por isso, equivale à palavra "até", "inclusive".
Por fim, apesar de muitos gramáticos considerarem um "erro" gramatical frases como: "Apesar de anular o gol legal segundo as regras do futebol, o juiz afirmou ao repórter ter conhecimento das mesmas", vale a pena citar uma frase de Evanildo Bechara presente em sua obra Moderna Gramática Brasileira:
Alguns estudiosos, por mera escolha pessoal, têm-se insurgido contra o emprego anafórico do demonstrativo mesmo, substantivado pelo artigo, precedido ou não de preposição, para referir-se à palavra ou declaração expressa anteriormente. ( O GRIFO É MEU) Não apresentam, entretanto, as razões da crítica. O ilustre professor cita, inclusive, frases como essa:
"Costuma-se escrever dentro dos livros, na folha de guarda, palavras alusivas aos mesmos".
A pergunta, então, é: Se o Gramático é maleável com relação ao uso de "mesmo", como deveremos proceder a partir de agora?
Ao estudante e/ou concurseiro, é salutar evitar o uso dessa expressão com valor anafórico, principalmente em produção textual. Tente mudar por outro pronome. Isso evitará problemas na correção das provas.
Um forte abraço!
Professor Rogério Brambila.
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